Quando as cores do sétimo dia

Franco, Rendrik F
ILUMINURAS

59,00

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Pari um poema emplumado. Pirei: Pisoteei, espicacei, Pus na pira dos pavões. Pra ser poeta, Precisa um pouco de pudor     O efeito lacunar do título deste livro é revelador: quando as cores do sétimo dia... o quê? Qual sétimo dia? Quais cor es?   É com muitas perguntas e com a sensação de incompletude que o leitor deve iniciar a leitura lenta e atenta destes poemas. Poemas que calam tanto quanto falam e em cujo silêncio ouvimos tantas perguntas — ou respostas — quanto as que estão nas palavras.   “Que sonham os pássaros quando pousam no mar?”; “Vivo ainda ou é isso tudo o lado de lá?”; “Você vê a pétala?”; “Você ainda sonha?”; “São vozes dos partos ou acordes do luto?”; “Que ruído é esse?”; “Por que o verso é agora nuvem, sem antídoto, escombro, cerca?”   Essas são algumas das perguntas distribuídas por esse sétimo dia, quando se contempla e se sonha com o que se criou. Para isso, é preciso dispor-se a frequentar o lado de lá das palavras e dos sentidos e aceita r as vozes estranhas do nascimento e da morte, essas vozes que, por temor ou covardia, teimamos em recusar.   O apuro técnico — sonoro, rítmico, imagético — destes poemas, algo incomum na poesia contemporânea, exige a entrada em um outro tempo. Tempo de escuta, de aceitação do que não se conhece, de fechaduras sem chaves exatas. Não há tampouco um “eu” onipresente em que se pudesse depositar essas lacunas. Não; ao contrário. É sobre nós que elas estão suspensas, indagando-nos como o cão que , no poema “Decreto”, pergunta as horas e a quem os ponteiros respondem: “21 crianças mortas”. Erramos por estes poemas, como em “Minérios”, atravessando miragens e séculos, à procura da palavra.   Como reencontrá-la, se na frente e no verso “ni nguém mais escava nessas terras pacíficas” e só o que fazemos é frequentar “vernissages, lançamentos, promoção, curso de Lacan?”   Os poetas, “de alma em riste”, esses loucos caçadores da palavra, são os que podem nos oferecer os outros lados de ssa língua plana e sem camadas e nos lançar de volta, como “um trapezista que pousa numa adaga”, para o reino perigoso e necessário do que não sabemos. Noemi Jaffe