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Hipólito e Fedra: Três tragédias
Eurípides; Sêneca; Racine
ILUMINURAS
179,00
Sob encomenda 11 dias
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Os santuários de Ártemis, divindade que os latinos assimilariam mais tarde a Diana, situavam-se geralmente nos limites, nos confins de todo território cultivado, chamado pelos gregos de eskhatíat: a orla, as extremidades, o ponto onde estão insc ritas as complexas relações que a civilização estabelece com a selvageria e a natureza com a cultura. As muralhas urbanas circunscrevem o adulto, o cidadão, suas lutas e guerras. Leis e códigos humanos. Do outro lado, extramuros, ficam a “vida espinh osa" e as feras selvagens. E não é difícil imaginar a tragédia de Hipólito e Fedra acontecendo numa dessas margens instáveis, tênues, que separam a terra cultivada da floresta virgem, a paixão da razão — embora os antigos a situassem geograficamente às vezes em Atenas, às vezes em Trezena, árido burgo natal de Teseu, o grande herói civilizador.
Filho de Teseu e de uma amazona — mulher guerreira e selvagem —, Hipólito é um caçador que devotou sua vida ao culto da virgem deusa Ártemis. É ferozment e casto. É belo. Terá talvez quinze anos de idade.
Fedra pertence à linhagem do Sol e é irmã do Minotauro, fruto dos amores monstruosos de sua mãe com um touro sagrado. Seu pai, o cretense Minos, rege o reino tenebroso dos mortos. Casada com Teseu, é uma jovem rainha estrangeira em terra grega e seu nome, que Significa “a luminosa”, é o mais claro e um irônico signo de suas insolúveis contradições: Afrodite sopra-lhe nas veias uma paixão impossível por Hipólito, cuja essência é a castidade, dese ncadeando a noite escura em que ela vai desmoronar lentamente, à sombra de Teseu, figura arquetípica do poder — erótico, político, religioso, paterno.
No tabuleiro das paixões proibidas, uma quarta figura é entretanto indispensável ao bom funcionamen to dessa peça de teatro antigo: a Ama ou Aia da rainha que, ao tentar desfazer os nós que embaraçam as personagens ao seu destino, a ele as vai atando, mais e mais.
Se Eurípides, que viveu no século V a.C., encena sua tragédia num espaço marcadamente ateniense, no horizonte da sofística e do conceito de gloria vinil, Eros assume, entretanto, a regência desse teatro das paixões, desde Sêneca — filósofo contemporâneo de Nero — até Jean Racine, poeta da corte de Luís XIV, deslocando a figura da gra nde amorosa para o centro do palco, num jogo de textos que se interpelam, se negam e se espelham uns aos outros; e isso infinitamente, caso o espectador queira mover, com sapiência e cuidado, o calidoscópio dos discursos, metáforas e silêncios do gre
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