O despovoador / Mal visto mal dito

Beckett, Samuel
WMF MARTINS FONTES

34,90

Indisponível

Crítica literária não é contabilidade, dizia Samuel Beckett. ''O despovoador'' (1970) e ''Mal visto mal dito'' (1981), dois de seus textos tardios reunidos neste volume, diversos, mas igualmente essenciais e radicais, o cobrem de razão. Obrigam todo leitor, crítico ou não, a abandonar de vez o maniqueísmo do preto-no-branco, repensando a utilidade de esquadro e compasso. Convidam a ingressar na suspensão angustiada do cinza, lusco-fusco em que o irlandês autor de Godot sempre esteve em casa. Eco nômica e tensa, para melhor acomodar o caos da experiência moderna, a obra final beckettiana rechaça qualquer simplificação. Uma fenomenologia da percepção e uma arqueologia do saber aproximam O despovoador, distopia que ecoa o Inferno dantesco, e Ma l visto mal dito, janela e réquiem para uma velha enclausurada. Nos rastros desses textos ficcionais, autor e leitor percorrem tentativas de explorar um labirinto muito peculiar, o "manicômio do crânio", consciência profunda ou abismos de inconsciênc ia,onde vontade expressiva e vestígios do mundo se combinam em corredores de linguagem mais ou menos triunfante, mais ou menos arruinada. Renunciar à ilusão do controle - fio de Ariadne com o qual acenava, sereno, o narrador clássico - e examinar as condições dessa falência (moderna, por certo, e mediada pela onipresença de um olhar investigativo cioso de si, observador e observado) é para onde aponta a narrativa beckettiana madura, a da "última pessoa narrativa", trabalho das três últimas décad asde sua vida.