Eu não sou cachorro, não

Araujo, Paulo Cesar
RECORD

74,90

Indisponível

Artistas considerados bregas — como Odair José e Waldik Soriano — sempre apareceram no topo da lista de mais vendidos. Veiculados nas rádios, freqüentavam os programas de auditório, mas não receberam o devido respeito e espaço em livros e teses, pois freqüentemente eram associados à ditadura militar. Em EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO, o historiador Paulo César de Araújo preenche essa lacuna na historiografia da música popular brasileira e mostra como as figuras mais demonizadas por aderirem à cultura oficial durante os anos de chumbo, na verdade, foram tão ou mais perseguidas pelo regime quanto os artistas de esquerda. “A produção musical brega (ou cafona) faz parte da realidade cultural brasileira, tanto quanto o tropicalismo e a bossa nova e me rece ser analisada”, argumenta o autor. EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO aborda três aspectos do papel de resistência desempenhado por esses artistas. Em primeiro lugar, Paulo César de Araújo analisa como muitas das letras trazem a denúncia ao autoritarismo e à segregação social. A música O divórcio, de Luiz Ayrão, por exemplo, — que, a princípio, se chamava Treze anos — pode ser lida tanto como um desabafo de um homem infeliz quanto como um basta ao regime militar. O autor compara a produção musical d entro do contexto histórico, dando especial atenção ao AI5. Paulo lembra, também, que a maioria desses cantores vivenciou o trabalho infantil: Nelson Ned e Agnaldo Timóteo foram engraxates. Paulo Sérgio, alfaiate. O livro traz, ainda, diversas curi osidades do universo musical cafona. São histórias que só agora chegam a público. Como a vez em que Odair José teve a música A primeira noite — que fala da primeira experiência sexual de um garoto — censurada e, para escapar ao veto, apenas trocou o título. Noite de desejos passou incólome pelas autoridades. Aliás, Odair José era campeão de vetos da censura federal. Sua música Pare de tomar a pílula foi proibida de ser executada nas rádios brasileiras e em toda a América latina. Mas ele não foi o único. Fernando Mendes teve seu Tributo a Carlinhos (o menino Carlinhos desapareceu sem deixar traços na década de 1960, num caso policial célebre e não resolvido até hoje) proibido já que poderia ser interpretado como referência aos presos polític os. Máximas de Waldik Soriano — A mulher é como a música. A música serve para limpar a alma, a mulher para limpar a casa — também estão presentes em EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO. Assim como situações que beiram a tragicomicidade: Nelson Ned passava por