Hécuba

Eurípedes
EDITORA RELICARIO

59,90

Sob encomenda
5 dias


Pobre Hécuba! Não houve mãe grega ou troiana que tenha sofrido mais que a rainha de Troia! Um a um de seus rebentos, Hécuba perdeu para a guerra infame, realizada em nome de uma “mulher que o foi de mais de um homem”, como ressoou no coro esquiliano (Ag. 63-64). A tradição deu-lhe entre quatorze e dezenove filhos. Eurípides ampliou a prole para cinquenta filhos, o que a tornou a imagem da maternidade total. Quando a tragédia foi encenada, o cenário da vida real era a guerra do Peloponeso, que j á acumulava seus mortos. Toda a peça se centra no sofrimento materno, potencializado na morte dos derradeiros filhos, Polidoro e Polixena – o primeiro, traído por quem o deveria salvaguardar; a segunda, reduzida a butim de guerra do inimigo já morto. Assim como as duas guerras – a de Troia e a do Peloponeso – se espelham, tais mortes replicam um drama em que a mater dolorosa vingará todos os filhos perdidos para a insânia humana. Esta tradução de Hécuba oferece a leitores e plateias uma experiên cia totalmente inovadora, desobediente aos usos e costumes tradutórios que solenizam a linguagem, em detrimento dos sentimentos e impulsos que sangram a língua escorreita, para parturiar o trágico. Tradução descolonizadora, fiel à vertigem de um text o que revida à desgraça dessa mãe reduzida a nada – “sem filho, sem marido, sem cidade” (v. 669) – e cuja dor vai “muito além da Taprobana” (v. 714); chama a si recursos insuspeitáveis, para dizer a dor que não pode ser calada. Talvez esta tradução e xplique às plateias brasileiras a desrazão do belicismo em que vivemos. Carlinda Fragale Pate Nuñez | UERJ