MEMÓRIAS DE UM MELANCÓLICO DELIRANTE

CARLOS, ESTEVES
LETRA SELVAGEM

64,70

Sob encomenda
10 dias


Alucinação, Recordação e Realidade Livro de memórias, por princípio e definição, este primeiro romance de Leandro declara seu vínculo com o gênero picaresco logo em suas primeiras linhas, conforme anuncia o narrador memorialista: “Sou picare sco. Andei por aí, fiz e não fiz. O leitor que aquilate”. Leonardo, anti-herói personificado, perde a mãe aos quatro anos de idade e desconhece o pai. Aos vinte anos, vê-se totalmente só no mundo após a morte da tia alcoólatra que se encarregara de sua criação. O que importa ressaltar aqui é a liberdade com que o texto borra os limites tradicionais dos distintos gêneros literários e a forma natural como os registros se confundem e se harmonizam para compor um conjunto que amarra a atençã o, levando o leitor adiante sem lhe soltar as rédeas. O viés cronístico presente em Memórias de um melancólico delirante não vive somente das recordações de uma São Paulo dos anos 1980 e 1990, cenário primeiro das aventuras de Leonardo. O autor l eva seu personagem às profundezas do Brasil central para cavoucar as histórias de exploração das gentes desfavorecidas pela falta de escrúpulos e pela ganância dos poderosos, histórias de corrupção atrelada à política predatória e da violência a rebo que dos insolúveis problemas fundiários que afligem o país. Ao se tornar uma espécie de Kurtz (o inesquecível personagem de O Coração das trevas, de Conrad) do centro-oeste brasileiro, cercado de capangas armados e investido de um poder nascido da ar bitrariedade, Leonardo personifica figuras reais da nossa história recente que, protegidos pela impunidade e pela intimidação, fizeram fama e fortuna à custa da miséria e da ignorância das populações. Cronista das agruras vividas por um Brasil ra teado durante a onda desenfreada das privatizações, aturdido pelos planos econômicos que sugaram as finanças populares e corroído pela ruína moral de seus governantes, Leandro Esteves retrata o momento em que as esperanças de um futuro brilhante para o país se despedaçam ante a certeza de uma realidade imutável. Memórias delirantes, romance cronístico, texto picaresco, realista, jornalístico, não importa. A mistura é consistente. Trata-se de ficção, de ficção de ótima qualidade. Ed mar Monteiro Filho