O salvador do mundo

Aguilar, José Roberto
ILUMINURAS

79,00

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Do alto dos seus 80 anos, Aguilar consegue mais uma vez se superar e nos surpreender, como tem feito desde os anos 60 na pintura, escultura, performance, música, video-arte e literatura — de onde brota agora O Salvador do Mundo, seu sexto livro, como uma cápsula de otimismo nesses tempos duros de pandemia e destruição; um bem-vindo happy-end ao filme de terror. Com uma linguagem direta e ágil, de frases curtas, que lembra o estilo dos romances modernistas de Oswald e Mario de Andrade, Aguil ar tece a trajetória de um personagem que se desdobra em vários, descobrindo-se e autotransformando-se sucessivamente, numa saga iniciática que flui como um filme de ação, pontuado por referências culturais — dos clássicos ao pop, da filosofia ao cin ema, da música erudita à popular, dos antigos aos modernos, do ocidente ao oriente — que irrompem como portas no corredor do enredo. Inicialmente impermeável a qualquer emoção (incluindo cores, olfato, tato ou prazer sexual), o protagonista passa a r epresentar a si mesmo para os outros, aparentando normalidade. O impressionante é ele ter consciência de sua condição (“eu simplesmente não tenho nenhum sentimento dentro de mim”), ao contrário de Truman (do filme The Truman Show), por exemplo, onde o protagonista era o único a não saber que vivia um grande simulacro.  Misto de fábula, aventura, romance policial, reflexão filosófica e ficção científica, O Salvador do Mundo realiza a proeza felina de narrar sete vidas em uma — Zé da Merda, J osé de Almeida Silva, José Lourenço Pinheiro, Parakê, Zé das Flores e O Salvador do Mundo (habitante do lixão, contrabandista, aluno de filosofia, advogado e contador, ator, ecólogo indigenista, inovador tecnológico) — percurso que metaforiza uma esp écie de caminho da iluminação — do vazio interior ao aprendizado das emoções (através da natureza), do sentir ao ser (através do feminino) e do ser ao ser outro (através da tecnologia). A passagem de Zé da Merda para Zé das Flores, como um avesso da equação de João Cabral em sua Antiode (“poesia te escrevia: / flor! conhecendo / que és fezes”), faz a transição da representação para o ser — o que nos remete à experiência de Aguilar com a linguagem da performance, que não se propõe a representar d e um papel, como no teatro, mas a assumir a presença integral, com toda a intensidade possível, nas situações inusitadas vividas em público. Não à toa, quando começa a desabrochar para sensações e sentimentos reais, o protagonista abandona o sucesso