As onze mil varas: ou os amores de um hospodar

Apollinaire, Guillaume
ILUMINURAS

65,00

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Esse livro inaugura a coleção à deriva... dirigida por Samuel Leon, que tratará de textos do gênero erótico. A ERÓTICA TEXTUAL DE APOLLINAIRE Em sua vasta tradição, o romance de aventuras tem por característica provar alguma coisa. O herói está no centro dessa provação, e suas peripécias volta e meia o colocam na berlinda. Ele então se desembaraça e segue em frente, puxando o fio da meada de novas experiências. Em sua contrafação erótica, pode-se dizer que o herói aventureiro põe à pro va o próprio corpo (e o alheio), sua potência e ato nos quesitos resistência e consumação de si, a imponderável ruína. O marquês de Sade foi um dos grandes cultores desse gênero, cuja obra está marcada por um empreendimento de extrema violência. Não é à toa que o autor de As onze mil varas o chamou de “o espírito mais livre que jamais existiu”.  A propósito, diferentemente de seu mestre, a violência erótica de Apollinaire conta com o consentimento dos personagens, ainda que muitos pereçam na empreitada. Se em Sade a crueldade é condição do prazer libertino, em Apollinaire ela é o efeito colateral do mesmo, isto é, um acidente ou uma consequência inevitável e sem culpa. Com efeito, em As onze mil varas, o mal pratica do contra o outro é o coroamento dos prazeres do protagonista, um certo príncipe, aliás, hospodar, chamado Vibescu, “Mony” para os íntimos, que se dá ao luxo (e à luxúria) de viver chafurdado em sucessivas e impagáveis orgias. O dito “príncipe” é sob erano no sentido de que vive para o gozo dos sentidos, sem precisar produzir para viver, podendo consumar-se livremente no excesso e no gasto sem reservas da libertinagem. A contribuição de Apollinaire para o gênero parece confirmar a tese de que aos olhos dos modernos e contemporâneos a violência dos signos eróticos diminui consideravelmente seu impacto levando-se em conta o requinte e a delicadeza do trabalho formal de linguagem, de modo que, por vezes, a violência propriamente dita acaba se t ransmudando em humor, tal a descrição, por exemplo, do membro viril como “um boneco gordinho que quer se esquentar no seio da mamãe. Como ele é bonito! Tem uma cabecinha vermelha e nenhum cabelo”. De fato, em As onze mil varas, as peripécia s libertinas não se fazem sem erotizar a própria linguagem (o que se deixa ver muito bem na tradução de Letícia Coura), produzindo um efeito de significância, aquilo que Roland Barthes define como produção sensual dos sentidos. É nesse pont