Outros 40

Antunes, Arnaldo
ILUMINURAS

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Uma vez, há muito tempo, encontrei Arnaldo Antunes na Consolação com a Paulista, aqui em São Paulo. Já nos conhecíamos, mas não éramos propriamente amigos. Apesar de um pouco atrapalhado com a mobilete que pilotava com certa dificuldade, me ofereceu carona. E fomos despretensiosamente conversando em meio ao vento, até que ele me deixou nas redondezas do meu destino. As palavras que trocamos, enquanto mantínhamos a atenção simultaneamente no ritmo alternado do equilíbrio-desequilíbrio, permanecer am comigo. Pensei nelas ainda muito depois daquele dia.   Numa outra vez, era eu quem vinha de moto pela Teodoro e dei de cara com ele, subindo a rua a pé. Levei-o até o lugar em que ele estava morando por uns tempos, em Perdizes. Usar capacete já era então obrigatório e não falamos muito pelo caminho. Quando chegamos, eu não quis entrar; alguém me esperava. Atualizamos a conversa, que foi se esticando, ali mesmo na calçada: o que estávamos fazendo ou planejávamos fazer e, principalmente, quem e o quê naquele momento estava piscando mais à nossa atenção. Lembro que, dias mais tarde, disse à minha namorada que, sem nem de longe se propor a isso, Arnaldo havia, novamente, melhorado a antena do meu receptor. Semelhante à primeira vez, aquele nosso papo casual teve seu efeito estendido diante de mim. Como se indicasse uma pista na floresta de signos que me ajudasse a encontrar o rumo de onde eu desejava e, na época, precisava mesmo ir.   Bem, à essa altura tod o mundo já sabe que Arnaldo sabe como nos levar — embarcados nos sons sentidos figuras das palavras — na direção de algum lugar em que, chegando inesperadamente, estar é bastante. E às vezes necessário, para não sermos apenas um cada um no meio de to dos. Faz parte disso a sua conhecida habilidade de se deslocar por áreas de produção muito diversas e encontrar nelas pontos de contato, quando não amplas e insuspeitadas afinidades. E ainda quando não é esse o caso, diante do ponto final da diferenç a, apostar no convívio (embora não costume fazer por menos para obtusos de todos os clubes). Em contato com o mundo a partir da cidade que ele chama de gigante liquidificador, onde os lugares saem do lugar, em que, como em nenhuma outra do Brasil, justamente convivem e/ou se misturam com alta potência macro e microculturas, investimentos de massa e de vanguarda, aquela habilidade de Arnaldo encorpou seu modo particular de metalinguagem.   Um bom pedaço disso tudo está à mostr