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O flautista de manto malhado em Hamelin
Browning, Robert
ILUMINURAS
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Nós, leitores amantes de histórias que desde “A cigarra e a formiga” desejamos vingar o artista desprezado pela estreita mentalidade tarefeira, encontramos na fábula do Flautista de Hamelin uma grande ocasião de desforra.
Nessa versão, o poeta inglês Robert Brownig (1812-1889) representa bem a imagem que o Romantismo fomentou do cantor marginal à sociedade. Um homem de exótica aparência, príncipe-mendigo, talvez mago, talvez louco, é o único que pode, pela arte, salvar a cidade. Só a sua música tem o poder de libertar o povo de praga pavorosa: uma invasão de ratos.
As autoridades estão impotentes quando um poder mais alto se alevanta...
Como um fantasma ressuscitado de antanho, aparece o flautista ninguém sabe de onde. E executa seu trabalh o, que parece milagre e brincadeira. O ar suspeito de vadio, porém, não desperta a consideração dos cidadãos respeitáveis que o humilham...
Mas, ao menos pela lenda, pôde o artista ressentido punir seus detratores, retirando da cidade justamente sua vida e esperança: já que não lhe foi dada sua paga devida, algo valiosíssimo foi para sempre tirado daqueles homens mesquinhos que não souberam merecer música e crianças.
O mistério de sua figura não se resolve: de onde veio, para onde levou as crian ças, para onde vai, como consegue encantar pela música... tantas perguntas levam a conjecturas sem fim. Por vezes soturna, por vezes brejeira, a história mantém uma aura de estranheza nunca dissipada.
Os que se deixaram hipnotizar pela doce melodia f oram atraídos pela “promessa de felicidade” que anunciava, talvez realizada no além.
Na tradução para o português, Alípio Correia de Franca Neto conseguiu a proeza de recriar com vivacidade os versos intrincados e as rimas bizarras de Browning, cuja capacidade para a narrativa dramática sempre foi seu principal pendor. Além disso, ainda nos brinda com um completo aparato histórico, a respeito da lenda, desde suas remotas origens, possivelmente medievais. Nada nos deterá - crianças, jovens e adul tos - em nossa leitura: também queremos seguir em cortejo o flautista que, por breves momentos, também a nós liberta das penas cotidianas e conduz à montanha enfeitiçada dos sonhos, onde quedamos ao final como o menino manco (único que não foi) para contar a história aos outros, testemunhas perplexas de nosso destino.
Viviana Bosi
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